sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Data venia, professor


O Globo 17-01-2022
https://oglobo.globo.com/mundo/com-esquerda-esvaziada-tres-candidatos-da-direita-lutam-para-ir-ao-segundo-turno-contra-macron-25354969

"(..) Para Thomas Piketty, economista best-seller com seus ensaios sobre as desigualdades econômicas e sociais no mundo, o macronismo tem enorme responsabilidade na direitização da paisagem política francesa. Na economia, o governo aplicou o programa da direita, resume ele.


O macronismo não tem "uma enorme responsabilidade na direitização da paisagem política francesa". Ele é a própria direitização. Responsabilizar Macron pela "direitização da França" soa como pura e simples tergiversação. Macron é parte do problema, não da solução. É por essas e outras que a social-democracia francesa, gerente e fiadora do acordão histórico dos sindicatos com as "200 famílias", também chamado "Estado do bem-estar", só voltará a ser chamada quando, a exemplo de Espanha, EUA, Bolívia, Brasil e - em alguma medida - Chile, o fascismo passar de espectro distante a catástrofe iminente. Agarrar-se à social-democracia e seus análogos, depois de tê-los rejeitado por incúria na debacle de 2008, é mero reflexo defensivo - saudável, por certo - de um trabalhadorado mundial em pânico, privado de sua identidade de classe e sem qualquer perspectiva histórica, em face do perigo fascista. A ruína da civilização capitalista - caos econômico, precarização em massa, degradação ambiental - seguirá seu curso, ainda que mais lentamente. Quanto ao socialismo fiscal de Piketty, reitero o que já escrevi em outra parte: no dia em que os povos reunirem força política suficiente para aplicá-lo, não haverá razão para não dar início à construção de um novo sistema econômico, sustentável sob todos os aspectos, vale dizer socialmente orientado e planejado à escala planetária. 

2022-01-21