sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mal-estar em Bucareste


Deu no NY Times online
19-01-2012, por Nicholas Kulish

Romanian Protesters Urge Government’s Ouster
Foto Bogdan Cristel / Reuters / NY Times
Thousands of protesters gathered in Romania’s capital on Thursday to demand the ouster of the government and new elections, as a week of demonstrations against far-reaching austerity measures and years of difficult reforms seemed to gain strength.
Economic frustrations have spilled into the streets here, as they have in Spain and Greece. Protesters in University Square downtown shouted chants calling for the resignation of President Traian Basescu and his ally, Prime Minister Emil Boc.
(..) The wave of protests, which have spread across the country, broke out after a popular health official resigned last week over government proposals to overhaul the health-care system. The official was reinstated this week, and a controversial proposal to partly privatize the medical emergency-response system has been shelved for now, but the protests have continued. (Continua)

2012-01-20


domingo, 15 de janeiro de 2012

Trilha Sonora: Índios

Legião Urbana

 









Índios
Renato Russo


Quem me dera ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei a quem
Conseguiu me convencer que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha

Quem me dera ao menos uma vez
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano de chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente

Quem me dera ao menos uma vez
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
Fala demais por não ter nada a dizer

Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente

Quem me dera ao menos uma vez
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
Sua maldade, então, deixaram Deus tão triste

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do iní­cio ao fim

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes

Quem me dera ao menos uma vez
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado

Quem me dera ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado por ser inocente

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho, entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Equilíbrio Geral e Eficiência Econômica

Deu no El País Economía
04-01-2012, por Manuel V. Gómez

España pierde 1.000 empleos al día

Diciembre acaba con un nuevo máximo histórico de 4.422.539 parados - La Seguridad Social pierde casi 360.000 afiliados en la segunda mitad de 2011

Montagem: Avebarna
España tenía que salir del hoyo del paro en 2011. Todos los pronósticos apuntaban a una leve -y deseada- recuperación del empleo. En cambio, el hoyo se ha hecho todavía más profundo. Cada día se ha cobrado unos 1.000 puestos de trabajo si se tiene en cuenta la afiliación a la Seguridad Social. Y los 4.422.359 parados que se registraban en las oficinas de empleo el pasado 31 de diciembre, 322.286 más que el año anterior, han vuelto a marcar un nuevo máximo histórico, el enésimo de esta interminable crisis que va ya camino de su quinto año.

La sempiterna tragedia griega que vive el euro se agravó en verano. La frágil confianza en la que se asentaba la recuperación española se evaporó. La economía ahora se contrae y su peor consecuencia, el paro, crece sin cesar. En diciembre se sumaron 1.897 desempleados más que el mes anterior, según el Ministerio de Empleo. Un número, a priori, bajo que sumado a los que se han contabilizado en una nefasta segunda mitad del año ha dado al traste con todos los pronósticos emitidos. (Continua)


2012-01-10

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Todas são primaveras, umas mais floridas do que outras

Praça Tahir, Cairo, dezembro de 2011
A pressão das classes dominantes estadunidense e norte-européias sobre o mundo árabe-muçulmano vem aumentando na razão direta da profundidade do atoleiro em que se debate o capital na era da finança globalizada.

Inquietos, os povos do mundo sentem crescer o ritmo da coreografia macabra que os EUA, a Europa e Israel executam ao redor do regime dos aiatolás, e se perguntam: no Afeganistão, teria sido por causa da destruição das torres gêmeas de Nova York; no Iraque, das míticas armas de destruição em massa – e ambos os países estão hoje em ruínas; no Irã, será por causa do programa nuclear – exclusividade na região, por "direito de império", dos generais paquistaneses e sionistas amigos do “Ocidente”. Quando é que esse pesadelo vai acabar? Quando o petróleo secar?

A pressão se manifesta em todos os terrenos: militar, econômico, diplomático, político e cultural.  A intervenção militar seletiva e oportunista dos Estados centrais e OTAN nas revoluções democráticas em curso na região – cujo exemplo mais claro foi a Líbia, podendo se repetir na Síria – é apenas um dos meios de que a finança global lança mão para se apossar, com um mínimo de “custos de intermediação”, da totalidade das reservas de petróleo da região e eliminar focos de resistência ao seu domínio sobre os recursos essenciais disponíveis no mundo. Hoje é o petróleo; amanhã poderá ser... a água.

Para tapar o buraco legado pela explosão da bolha financeira de 2008 e se recapitalizar sem levar à ruptura – o que é muito importante – o sempre delicado equilíbrio social europeu, a finança globalizada, em sua desesperada fuga para diante, parece procurar instintivamente a ampliação rápida e radical de seu domínio sobre as fontes mundiais de petróleo. 

Não lhes basta o petróleo que já têm sob controle: os países centrais precisam desesperadamente de todo o petróleo disponível nos depósitos do Norte da África e Oriente Médio, seja para seguir movendo a custo relativamente baixo a sua decadente e insustentável indústria automotiva – razão pela qual outra frente de guerra já está aberta, sobretudo nos EUA, contra o ambientalismo em geral – seja para dar novo lastro à espiral de valorização parasitária de seus capitais à base de securitização de contratos e especulação imobiliária, os verdadeiros motores dinâmicos da economia de mercado contemporânea.

Para o capital globalizado, trata-se somente de sobreviver, não importando que arraste consigo o planeta inteiro à ruína - econômica, política, cultural e, finalmente, ambiental.  

Como brinde pela conquista do acesso ilimitado ao petróleo, as potências almejam também, é claro, incorporar ao mercado mundial por elas controlado todos os fatores de produção (capitais, terra, mão de obra) e potenciais mercados árabes consumidores de capitais e mercadorias, eventualmente bloqueados pela vigência de instituições remanescentes dos movimentos de independência nacional do segundo pós-guerra.

Gamal Abdel Nasser 
Este parece ser o cerne do conflito entre a finança global gravemente ferida, mas longe de morta, e os califados nacional-burocráticos resultantes da lenta, porém inexorável degeneração dos regimes herdeiros dos movimentos nacionalistas árabes do terceiro quarto do século XX. 

Foi no marco do movimento nacional-desenvolvimentista conhecido, de maneira só aparentemente contraditória como pan-arabismo, que se afirmaram a República Árabe do Egito, governada por Nasser – que nacionalizou o Canal de Suez – a partir de 1953, a República Árabe da Síria (unida ao Egito entre 1958 e 1961 como República Árabe Unida) e, finalmente, a República da Líbia (unida ao Egito entre 1972 e 1979, como Confederação das Repúblicas Árabes); rebatizada como república "Árabe, Popular e Socialista” a partir 1969-1970, a Líbia de Kadafi nacionalizou bancos, empresas e os recursos petrolíferos do país.
França, Inglaterra e Israel reagem militarmente
à nacionalização do Canal de Suez em 1953 

A disputa, por parte da “comunidade internacional” (capital globalizado, Casa Branca, OTAN e grande imprensa), do significado da expressão “primavera árabe”, tem um sentido claro: dar à revolução democrática pan-árabe – que não aspira essencialmente senão a pão, terra, democracia e, como sempre, independência nacional – o significado de uma continuidade, mais que um eco tardio, da revolução democrática leste-européia que decretou o fim da burocracia soviética e restabeleceu o “livre” mercado nos países onde o essencial dele havia sido banido.

Trata-se, para esse simulacro de “comunidade internacional”, de convencer os trabalhadores e camadas médias do mundo inteiro de que o que querem a juventude, os trabalhadores e os pequenos proprietários árabes é se livrar dos restos de limitações à propriedade herdados do panarabismo e se ajoelhar de admiração ante os prodígios econômicos de Wall Street , da City e de Frankfurt.

Comparando-se a atitude da grande imprensa da “comunidade internacional” em face das revoltas democráticas na Tunísia, Egito, Bahrein, Qatar, Iêmen, Líbia, Síria etc. pode-se concluir: todas são primaveras, mas  algumas mais floridas do que outras – conforme a afiliação política e histórica das respectivas famílias governantes. 

No centro dessa encruzilhada está, porém, o Irã, um país muçulmano não árabe palco da mais tardia (1979), violenta e, em certo sentido, intrigante das revoluções nacionais do Oriente Próximo, erguida sobre os escombros da tradição nacionalista laica legada por Mossadegh (que nacionalizou o petróleo iraniano em 1952) mas também por Nasser, Kadafi e até por Arafat. 

Por ser, talvez, a mais tardia do mundo muçulmano – sufocada durante quase 25 anos sob o tirânico reinado pró-EUA do xá Reza Pahlevi –, a revolução iraniana de 1979 marcou, por outro lado, a derrocada e submissão aparentemente definitivas do nacionalismo democrático laico e das pretensões pseudomarxistas do outrora poderoso, mas  já então decadente Partido Comunista Iraniano (Tudeh). Com Khomeini, a revolução nacional e anti-imperialista começa a se converter, em todo o Oriente Médio, Ásia Menor e até na Indonésia – numa palavra, em todo o mundo muçulmano -, em “revolução muçulmana”, dando ao sentimento anti-imperialista uma forte conotação de resistência civilizacional.

O xá Rehza Pahlevi e a
imperatriz Farah Diba
em seu ambiente: a capa
da Paris Match 
Foi sustentando Reza Pahlevi até o limite do absurdo que os EUA e a Grã-Bretanha conseguiram a proeza de dar justificativa histórica, em fins do século XX, ao renascimento, no Irã, do Estado teocrático muçulmano, que emergiu como uma forma “ultra-sui-generis” de regime bonapartista apoiado sobre uma juventude intensamente radicalizada e uma milícia de extração popular cujas oscilações à esquerda lhe dão uma aparência nacionalista revolucionária e, à direita, claramente fascista.

Foi assim, creio, meio empurrado pelas circunstâncias meio por vontade própria de sua juventude revolucionária islâmica, que o Irã dos aiatolás se converteu em referência inevitável para toda revolução democrática árabe que não tenha uma liderança laica à altura das tarefas históricas a cumprir.

A teocracia iraniana é, para a dita "comunidade internacional", o inimigo a ser destruído. Não por ser teocracia, muito menos por seu caráter inerentemente conservador e antidemocrático – que a plutocracia estadunidense e os nobres financistas britânicos não estão nem aí para essas futilidades – mas por ser, em alguma medida, nacional e anti-imperialista e, até por questão de sobrevivência, mais que tudo anti-EUA.

Sabe Alá aonde tudo isso vai dar!



2012-01-05


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Para lá de Bagdá, eu ia esquecendo: Feliz 2012!


Icaraí, Niterói - Ave, 2012
Foto Tiago Louza. Fonte: O Fluminense - Internet

Perdoem-me os amigos por lembrar coisas tristes num momento por todos dedicado à necessária celebração da passagem de ano, mas é que ao assistir, no Jornal das Dez, à interminável queima de fogos de Londres, não pude evitar um dejà vu que me levou à poltrona que ocupava em março de 2003, quando não apenas bombardearam Bagdá por motivo fútil – como se comprovou mais tarde – como fizeram daquilo um grande espetáculo pirotécnico midiático, quase uma festa de abertura das Olimpíadas do Oriente Médio. E ainda mais porque foram os chefes do Estado britânico que ajudaram a organizar aquilo lá. 

O resto do texto veio no embalo.

A queima de fogos da virada no ano em Icaraí,  Niterói, foi uma beleza. Pra ninguém botar defeito. Vinte minutos inteirinhos, contados no relógio! Quando passou dos 15 e já não se viam mais fogos em Copacabana por trás do costão do Pão de Açúcar, eu confesso que comecei a pensar no meu IPTU, espoucando no céu da Baía de Guanabara em todas as cores e configurações imagináveis. Batemos todos os recordes. Niterói está no mapa do mundo. Feliz 2012 para todos.


2012-01-02


domingo, 1 de janeiro de 2012

Queima de fogos em Bagdá.


Em março de 2003, a queima de fogos de destruição em massa intitulada Shock and Awe (Choque e Pavor, leia-se puro terror) abriu umas das mais devastadoras operações de guerra (mais de 100 mil civis mortos) já organizadas pela moderna “comunidade internacional” (capital financeiro, Casa Branca, OTAN e grande imprensa) contra os povos da periferia mundial – com base em um conjunto de alegações comprovadamente falsas pelas quais nenhum chefe político (Bush, Rumsfeld, Blair, Aznar e outros) foi ainda convocado a prestar contas no Tribunal Criminal Internacional. 

Nove anos depois, a mesma “comunidade internacional” anda flertando com a reedição da catástrofe iraquiana no Irã, desta vez por causa do programa nuclear dos aiatolás. Apreensivos e desconcertados, os povos se perguntam por que os padres, pastores e rabinos (clandestinos) podem ter bombas atômicas e os aiatolás não.

O planeta precisa desesperadamente de fontes de energia outras que não o petróleo, mas parece que as potências ocidentais, com seus Estados semi-falidos e seus banqueiros afogados num emaranhado de papagaios financeiros “micados” que nem eles mesmos sabem como deslindar, precisam desesperadamente de mais petróleo do que já têm assegurado, nem tanto para consumir, talvez, quanto para lastrear novos cacifes financeiros com que continuar fazendo a roleta girar. Produzir, lamentavelmente, não dá lucro bastante. A solução é especular. 

Se Wall Street não for efetivamente ocupada por quem vive do próprio trabalho, corremos o risco de entrar 2013 ainda em 2012 assistindo pela TV, incomodamente instalados em nossas melhores poltronas, na companhia de amigos e familiares, à queima de fogos de destruição em massa em Teerã.

Que Deus e Alá e todos os outros ouçam, pelo menos desta vez, os nossos votos por um feliz 2012.

2012-01-01