quinta-feira, 21 de abril de 2022

Avebarna Herald: Ditadura nunca mais


O Globo 19-04-2022
https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/verdade-historica-que-tentam-sepultar.html

Houve no meu facebook quem insinuasse que a Leitão, devido a suas posições como jornalista econômica e política (impeachment de Dilma, Lava-Jato, prisão de Lula etc), não merece crédito como denunciante da tortura no regime militar; só faltou dizer que mereceu ter sido torturada.

Pergunto: se formássemos hoje no Brasil um Comitê Cidadão Independente pela Punição dos Torturadores da Ditadura, quem você convidaria para integrá-lo? A Leitão que denuncia os crimes da ditadura ou aqueles que se empenham em denunciar sua denúncia como choraminga tardia de uma inimiga do povo?

A pergunta é retórica. Não existe no Brasil nenhum Comitê Cidadão pela Punição dos Torturadores da Ditadura, nem pela Apuração do Assassinato de Marielle e Anderson, nem pela Defesa da Amazônia, nem pela Defesa dos Povos Indígenas, nem por Eleições Democráticas nem por nada que não diga respeito à disputa dos mandatos eletivos, tais como se apresentam - em avançado estágio de decomposição institucional.

Não conheço um único partido político no Brasil que se interesse por iniciativas democráticas cidadãs, como ficou provado no caso do “Somos 70%” e movimentos afins, para não falar da indiferença dos partidos “progressistas” pelo golpe bolsonarista fracassado de 7 de setembro e pela indignação nacional nascida da CPI da Covid. O verdadeiramente importante, desde então, era a eleição prevista para 2022. Chegou-se ao ponto de dizer que as manifestações de novembro foram canceladas por "falta de interesse das ruas".

Pois a mim não interessam debates bizantinos sobre alianças eleitorais. Democracia é representação. Eleição presidencial é uma armadilha histórica para fazer o cidadão-trabalhador entrar num corredor polonês e votar em quem não quer para-o-outro-não-ganhar. E a eleição de 2022, se não houver virada-de-mesa, é do tipo pouco-ou-nada. Eu já decidi em quem votar, no primeiro turno para não dar chance ao azar, e dispenso os ilusionismos programáticos. Nenhum candidato me representa. É para ganhar tempo, mesmo. E ver no que vai dar.
2022-04-20