terça-feira, 31 de março de 2015

Os prós e os contras


Semanas de manifestações pró e contra Dilma. Sintomáticas, mas ainda periféricas. As manifestações pró-Dilma não parecem ter mobilizado muito mais do que o aparato do PT e sua área de influência direta, quase toda ela dependente, de uma ou outra forma, do Estado. A presença da CUT e sindicatos não deve ser superestimada: a estrutura sindical de hoje é ainda essencialmente a mesma que foi herdada pelo PT do tempo dos pelegos do Ministério do Trabalho, pensionista do imposto sindical. 


De todo modo, essas manifestações só existiram como reflexo defensivo de um aparelho estatal e partidário empurrado contra as cordas pelo escândalo da Petrobrás. 

O governo Dilma é fraco, e não apenas por ter perdido de pouco, mas por ter ganhado onde menos é relevante o peso do operariado industrial e, sobretudo, por ter quase perdido para o morto-vivo eleitoral da burguesia, a quem a cúpula petista se aliou tacitamente para não ser atropelada pelo “efeito Marina Silva”. 

O fim da corrupção nos negócios do Estado é uma aspiração democrática legítima. Democracia significa, dentre outras coisas, que os assuntos públicos devem ser tratados com transparência, que as leis devem ser respeitadas e que aqueles que comprovadamente as transgridem devem ser devidamente julgados e punidos.

As manifestações anti-Dilma têm sinais contraditórios. Por um lado, expressam o descontentamento legítimo com práticas que a maioria dos brasileiros tem todo o direito de julgar inadmissíveis em qualquer caso e muito mais sob os governos do Partido dos Trabalhadores: a corrupção e a dilapidação do patrimônio do Estado. Não se trata de que os trabalhadores são santos, mas de que essas licenças não são, definitivamente, parte constitutiva da sua psicologia política, muito menos de sua perspectiva histórica! 

Por outro, elas traduzem a malversação oportunista, por parte da grande imprensa, da cessação do crescimento econômico - que teria como causa fundamental não a anarquia do mercado mundial, mas equívocos da gestão econômica petista. A leniência dos governos do PT, por dolo ou omissão, com o pagamento de propinas a políticos e altos funcionários de empresas estatais, torna mais ou menos automática essa ilação. 

Aqui, desgraçadamente, é o feitiço se voltando contra o feiticeiro, uma vez que os sucessivos governos do PT infundiram na população a crença de que o crescimento econômico existiria para sempre desde que Lula estivesse no poder, ou seja, de que Lula tinha o poder mágico de conjurar as crises espasmódicas do sistema capitalista. Os governos petistas não apenas iludiram a sua base social original com respeito aos limites da sua ação como deram aos seus inimigos os meios de culpá-los pelo desarranjo da economia que eles garantem ser não apenas a mais eficaz como a única possível - crise cujo ônus, por ironia, cabe ao governo Dilma administrar. 

Ou seja, o PT acaba triplamente maldito: por coonestar com a corrupção, por causar a crise econômica e por lhe caber a administração dos remédios amargos necessários à retomada do crescimento nos termos do capital monopolista. 

A incógnita continua sendo a classe trabalhadora, ausente como tal da vida política desde que foi descartada por Lula como um fator de perturbação do consenso social. No Brasil, país em que sindicatos e partidos da classe trabalhadora são pouquíssimo enraizados, a concertação social tende a se materializar na figura do presidente eleito que a todos representa. Da classe trabalhadora que, na década de 1980, levou Lula ao centro da vida política nacional, só restam os aparelhos domesticados pelo Imposto Sindical. E mesmo estes o partido só convoca em situações extremas, como agora, para contrabalançar os efeitos negativos das manifestações anti-Dilma de 15 de maio.

A tendência é que Dilma, para se proteger, se descole do aparelho partidário - refletindo, à sua maneira, o movimento de Marta Suplicy -, uma vez que lhe cabe o ônus de "fazer o dever de casa" sem que o partido lhe possa dar guarida nessa questão. Ao contrário, a tendência do aparelho do partido é se mover, como por reflexo, no sentido do “volta Lula”, o único movimento capaz de, em tais circunstâncias, manter a sua coesão.

Redesenhado para ministrar justiça econômica em uma economia de crescimento ininterrupto, o PT, na crise, nada tem a oferecer ao país além da união nacional em torno de Luís Inácio da Silva, o social-democrata carismático, singularíssimo amálgama histórico de Getúlio, o pai dos pobres, Juscelino, o desenvolvimentista e Lula, o metalúrgico. 

2015-03-31