quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sobre a economia do futebol

Em 1975, quando o Fluminense contratou Roberto Rivelino, o meu pai pontificou: “Que absurdo, um jogador de futebol valer essa fortuna!" Algo me dizia que ele estava errado.

Em 1995, quando a “economia de serviços” era o tema da moda, eu disse a um incrédulo colega consultor em planejamento, num momento de inspiração, que “o Brasil exportar laranjas e importar suco embalado é quase a mesma coisa que exportar jogadores e importar futebol pela TV”.

Em 2006, quando meu professor preferido de economia urbana me revelou seu interesse em estudar bens que, como a terra, tivessem “preço de monopólio”, eu sapequei: “jogador de futebol”.

Aí, quando em 2008 o estouro da bolha pôs a nu o papel da indústria imobiliária no desenvolvimento capitalista contemporâneo, eu me dei conta de que não é coincidência o fato de traficantes e especuladores investirem em mega-projetos imobiliários e xeiques árabes e novos-ricos russos em times de futebol.

É por isso que, em 2011, quando ouço comentários ufanistas do tipo ‘o Brasil vai virar potência’, meu primeiro reflexo é pensar: ‘Certo: quando o Cartel de Medellín comprar a AFA e a N'drangueta a CBF e o Messi e o Rooney vierem jogar no Corínthias, o Ibrahimovich e o Nasri no Flamengo, o Cristiano Ronaldo no meu Fluminense, o Xavi no Cruzeiro, o Ribery no Boca Juniors, o Ozil e o Iniesta no River Plate, o Sneider no Peñarol, o Drogba na LDU, o Thiago Silva vier para o Santos fazer tripla com Neymar e Ganso e a Rede Globo vender a Libertadores para a Europa, Ásia e EUA pelo preço mais alto do mercado esportivo mundial!


2011-11-02