terça-feira, 1 de novembro de 2011

O enigma da meia-entrada

Em si mesma, a discussão da meia-entrada na Copa do Mundo me parece uma tolice sem sentido. No marco da política geral do governo brasileiro para a realização da Copa do Mundo, porém, ela se parece mais, infelizmente, com poeira nos olhos do público.

O mínimo que se poderia esperar de um contrato com a entidade privada dona dos direitos da Copa do Mundo é que esta exigisse o controle total da receita de ingressos. Se há uma única coisa compreensível, senão razoável, no acordo com a FIFA é que os ingressos sejam vendidos pelo preço fixado pela entidade.

É evidente, nesse caso, que, se o governo brasileiro quisesse respeitar a lei da meia-entrada bastaria subsidiá-la na cota de ingressos destinados ao público doméstico. Se a Copa do Mundo fosse um empreendimento verdadeiramente privado acolhido com interesse pelo Estado brasileiro, o subsídio à meia-entrada seria um custo público efetivamente desprezível, amplamente compensado pelas externalidades positivas do empreendimento.

Ocorre, porém, que, como eu mesmo já disse em outro lugar, a Copa do Mundo não é um empreendimento privado, mas uma gigantesca operação estatal de ajuda aos donos do negócio do futebol e seus fornecedores, construtoras e hoteleiros, mediante fabulosos investimentos públicos a fundo perdido e polpudas isenções fiscais. Para a FIFA, trata-se de produzir seu espetáculo a custos de mão-de-obra, infraestrutura, equipamentos e serviços de Terceiro Mundo para vendê-los na Europa, Ásia e EUA a preços de Primeiro.

Nessas circunstâncias, o governo me parece acertar tarde demais. Enquanto os grandes espertalhões do negócio futebolístico usufruem os generosos subsídios já concedidos e o governo (se liga, PT!) os pontos conquistados na parada do prestígio internacional, os jovens e idosos interessados em assistir às partidas da Copa nos novos estádios brasileiros classe FIFA correm o risco de ficar sem o seu direito à meia-entrada.


2011-11-01