Facebook 17-10-2014,
Não pretendo enumerar as minhas nem discorrer sobre a trajetória recente do Partido dos Trabalhadores - que, aliás, levou-me a renunciar até à posição de simples simpatizante durante as manifestações de junho de 2013; hoje não sou militante nem filiado a nenhum partido ou organização política.
Mas quero dizer que, refletindo sobre o que estamos vivemos no Brasil e neste mundo cada vez mais interconectado, desconcertante e sujeito a catástrofes econômicas, políticas e ambientais (a seca parece ter chegado a São Paulo e uma recessão mundial assoma no horizonte), DECIDI VOTAR EM DILMA ROUSSEFF neste 26 de outubro e PEDIR-LHES QUE CONSIDEREM FAZER O MESMO - sem que isto signifique abrir mão, nem por um minuto, de suas críticas e restrições ao curso do atual governo.
Peço-lhes considerar o fato de que, para a imensa maioria dos assalariados, trata-se de escolher entre UM GOVERNO QUE RESULTA DA LUTA HISTÓRICA DA SUA PRÓPRIA CLASSE - AINDA QUE SEJA DELA, HOJE, UMA EXPRESSÃO EXTREMAMENTE DISTORCIDA E CARREGADA DE AMBIGUIDADES - e um candidato que, como já admitiu em dezenas de matérias a própria imprensa que a defende e patrocina, é a maior esperança de financistas, empreiteiros, incorporadores, latifundiários e concessionários.
Para esses autênticos parasitas do Estado, comumente embrulhados sob o rótulo 100% enganoso de “o mercado”, não bastam pacotes de bondades como os generosos gastos estatais com a Copa da FIFA e as concessões generalizadas de serviços públicos, transportes e até enclaves urbanos inteiros como o Porto Maravilha e o Centro de Niterói. Sua concepção de Estado bem conduzido é: livre acesso ao Tesouro do Brasil para os “homens bons” de todo o planeta e austeridade fiscal para a “plebe ignara” do país - como ficou claro nas sucessivas reportagens da revista Economist exigindo a cabeça do ministro Mantega.
Aliás, para fazer justiça a Dilma e Mantega, foram eles, dentre toda a cúpula do governo e do PT (para não falar, é claro, do PSDB, do DEM, do PMDB e tantos outros), os únicos que reagiram com dignidade e respeito ao tsunami democrático de junho do ano passado, em cuja raiz estavam exatamente a caixa-preta das permissões e concessões de transporte, a insuficiente qualidade dos serviços públicos, o preço exorbitante da moradia e o esbanjamento de recursos do Estado em benefício da FIFA e seus parceiros. Confiram o noticiário da época e me corrijam se eu estiver errado.
Penso que a questão de se criar uma alternativa a um PT que não honra as suas origens (vinda de dentro ou de fora do partido) não será resolvida enxotando-o do Planalto, muito menos promovendo-se a instalação de Aécio e o PSDB em seu lugar. Ao contrário. Seja quando e como for que a classe trabalhadora reapareça na cena política com sua própria cara, independente do governo e da cúpula petista (o que, infelizmente, não aconteceu em junho de 2013), novas conquistas, assim como a simples defesa das anteriores em face de uma possível recessão ou uma catástrofe ambiental, serão muito mais difíceis sob um presidente e uma coalizão partidária organicamente hostis e congenitamente surdos às reivindicações econômicas e políticas da parte de baixo da pirâmide social brasileira: salário, emprego, renda mínima, reforma agrária e urbana, serviços públicos baratos, democracia substantiva e proteção radical do meio ambiente.
Não lhes proponho um cheque em branco para Dilma e sua absurda “base parlamentar”, muito menos leniência para com os malfeitos do PT ou por ele acobertados. Peço-lhes cabeça fria para, como diziam nossos avós, não jogarmos fora o bebê junto com a água da bacia.
Proponho-lhes, porque ainda há tempo, e sem prejuízo de nossas diferenças de opinião, formarmos neste momento uma corrente eleitoral em defesa das conquistas econômicas, sociais e políticas dos últimos 30 (!!!) anos - QUE NÃO SÃO OBRA EXCLUSIVA DO PT NEM GRAÇA DE SEUS LÍDERES, MAS O RESULTADO DA AÇÃO POLÍTICA DE DUAS GERAÇÕES DE TRABALHADORES BRASILEIROS - votando em Dilma Rousseff em 26 de outubro e exigindo do governo, com ou sem o aval do da cúpula do PT, que cumpra o papel que dele se espera - como fizemos (em espírito, no meu caso!) nas manifestações do ano passado.
Peço-lhes, encarecidamente, que peçam a MARINA SILVA e às lideranças do PSOL para RECONSIDERAREM SUAS POSIÇÕES PENSANDO NOS INTERESSES GERAIS DA CLASSE TRABALHADORA, QUE NECESSARIAMENTE INCLUEM A DEFESA E AMPLIAÇÃO DOS DIREITOS BÁSICOS DA MAIORIA DOS BRASILEIROS E, DE UM MODO CADA VEZ MAIS URGENTE, A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE - lição que a cúpula do PT desprezou tanto ao hostilizar as manifestações de junho de 2013 quanto ao eleger Marina Silva como o “inimigo principal” no 1o turno da eleição.
A essa altura, um simples pronunciamento de Luciana e uma honesta revisão de conceitos de Marina podem decidir a eleição a favor daqueles para quem o seu resultado é mais crítico: os que dependem exclusivamente do próprio trabalho - assalariados, autônomos, profissionais - e a massa de pequenos empresários formais e informais que, em conjunto, são os maiores empregadores do país e precisam, esses sim, do apoio do Estado para ter acesso a algo que se assemelhe a um mercado.
Peço também, aos amigos que pretendem votar Nulo, que reconsiderem sua decisão pelos mesmos motivos acima descritos ou, pelo menos, que associem uma perspectiva política clara ao seu protesto - caso em que eu, retornando quase 40 anos no tempo, lhes sugeriria: “Voto nulo por um partido renovado (ou até um novo partido) dos trabalhadores brasileiros”.
2014-10-17