NYTimes 03-01-2024
Opinion | Former Harvard President Claudine Gay: This Is About More Than My Mistakes - The New York Times (nytimes.com)"(..) Yes, I made mistakes. In my initial response to the atrocities of Oct. 7, I should have stated more forcefully what all people of good conscience know: Hamas is a terrorist organization that seeks to eradicate the Jewish state. And at a congressional hearing last month, I fell into a well-laid trap. I neglected to clearly articulate that calls for the genocide of Jewish people are abhorrent and unacceptable and that I would use every tool at my disposal to protect students from that kind of hate. (..)"
À parte o assédio que sofreu pelo simples fato de ser reitora preta da universidade mais elitista dos EUA, em face do quê lhe sou inteiramente solidário, Claudine Gay, ao lamentar ter caído numa armadilha por não condenar o Hamas como "organização terrorista que quer erradicar o estado de Israel" e ignorar os "apelos ao genocídio do povo judeu", sugere ser, de moto próprio, politicamente prisioneira não de uma, mas de duas armadilhas.
A primeira, a de não distinguir o jihadismo teocrático e ultra-reacionário do Hamas do legítimo debate histórico e político sobre a existência do Estado de Israel. Não precisamos ir além do plano das analogias para perguntar: se o Estado de Israel nega legitimidade à existência de um Estado palestino na terra palestina, porque somente a recíproca tem caráter de pretensão genocida?
A segunda, a de confundir, como fazem deliberadamente os sionistas dignitários no Estado disfarçadamente teocrático e racista de Israel, a legítima reivindicação histórica e política do fim desse Estado - para dar lugar, digamos, a um Estado democrático, laico e multiétnico na Palestina "doada" pelas potências aos sionistas em 1948 (alguém acredita seriamente na hipótese de convivência pacífica de dois Estados teocráticos em terras palestinas?) - com a defesa nazifascista, de quaisquer origens, do extermínio do povo judeu. Também aqui não precisamos ir além das analogias para dizer que esse tipo de amálgama serve de cortina de fumaça para ocultar que o Estado de Israel segue impulsionando a ocupação do que resta de terras palestinas na Cisjordânia e que suas forças armadas, a pretexto de eliminar os adeptos do terrorismo jihadista, encontram-se hoje claramente empenhadas numa ação de extermínio, terrorismo e limpeza étnica contra a parcela da nação palestina residente no 'campo de refugiados' de Gaza.
Como já disse neste blog*, dentre os inúmeros genocídios registrados na história da humanidade, o dos judeus em mãos nazistas na II Guerra é aquele que os líderes sionistas acharam por bem designar como Holocausto, com h maiúsculo, para ressaltar-lhe a singularidade: afinal, trata-se do extermínio do "povo eleito" por Deus - para não se sabe qual missão. Para essa gente, todos os demais holocaustos étnicos e religiosos, incluindo este que vai sendo perpetrado por mãos israelenses, não significam absolutamente nada no Carnaval da história.
Os mais de 20.000 palestinos mortos em Gaza nas últimas semanas, boa parte deles crianças, não me deixam mentir.
2024-01-17
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* “Genocídio eleito”, 19-07-2019
https://avebarna.blogspot.com/2017/07/genocidio-eleito.html