segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Erdoganização global: aforismos

Deu no Brasil247 em 07-08-2016

Mais de 1 mi vão às ruas da Turquia em apoio a Erdogan 
O corolário do desenvolvimento capitalista inexoravelmente parasitário dos Estados nacionais - a despeito das ilusões disseminadas sobre a progressiva dissolução destes últimos na "economia globalizada" - e irremediavelmente debilitado pelo colapso do maná neoliberal em 2008 é a confirmação do bonapartismo, em suas inúmeras variantes institucionais e orientações cardeais, como regime político padrão do século XXI.


Claro indício do fenômeno - pela negativa - é o desconcertante resultado dos esforços das potências ocidentais para “livrar o mundo” dos resquícios da maré anti-colonial pan-árabe do II Pós-Guerra: a desintegração da ordem petroleira mundial num emaranhado quase incompreensível de guerras civis travestidas, como recém explicou o Papa Francisco(!), de conflitos religiosos. Conclusão tardia: era melhor um Sadam/ Kadhafi/ Assad mais ou menos na mão em seu espaço nacional do que milhares de jihadistas voando pelo mundo à caça de alvos aleatórios.

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Três importantes aspectos da erdoganização global são: (1) a "judicialização da política" - também dita "politização da justiça", (2) a ritualização da democracia e a mumificação de suas instituições, em aberta contradição com a potência criadora das multidões trabalhadoras urbanas; (3) a implosão da dicotomia metafísica esquerda/direita (democracia/ fascismo na versão dos manuais da burocracia pós-bolchevique de Moscou), a começar do tsunami popular que consumou a inglória debandada desta última em fins da década de 1980. 


A grande incógnita deste século adolescente é o trabalhadorado planetário, imerso numa crise hamletiana de identidade e de perspectiva histórica - confiscadas aos seus avoengos pela social-democracia europeia, lançadas ao buraco da memória pelo termidor soviético e ainda não remidas pelas novas gerações.

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Por ora, continua valendo a máxima política do inesquecível deputado Francelino Pereira: "O futuro a Deus pertence".

2016-08-08