quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O terrorismo islâmico e o espírito da social-democracia

Deu no BBC News 13-01-2015, por BBC News
France attacks: War with terrorism not Islam, PM Valls says
He told the French National Assembly that the Islamist gunmen who murdered 17 people in Paris had wanted to kill the "spirit of France", but had failed
Fonte: http://archive.constantcontact.com/fs095/1101297535809/archive/1105739836051.html


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Queriam matar "o espírito da França”!

Por que será que os chefes da social-democracia francesa, diante do perigo, invariavelmente se refugiam atrás de bazófias patrióticas?

Hipótese 1: porque é o caminho que lhes resta para tentar se salvar da crise histórica de representatividade junto às multidões trabalhadoras, que eles se acostumaram a manipular com vantagens econômicas diretas e indiretas desde a época gloriosa do Plano Marshall.

Hipótese 2: para dissimular as responsabilidades, tanto histórias como muito recentes, do Estado francês no caos político, econômico, social e cultural a que está reduzida a região do mundo de onde provém o terrorismo islâmico.

Para refletir: a matança de Paris, assumida pela Al Qaeda, tem de fato a sua marca: uma ação espetacular e chocante no coração – no ventrículo europeu, vá lá – da ordem mundial. Mas pode, também, ser uma reação dessa organização, de propósitos obscuros, ao prestígio recém-adquirido junto à juventude islâmica pelo EIIL, ou simplesmente EI (Estado Islâmico), cuja violência tem se concentrado na execução exemplar de estrangeiros indesejáveis no território que pretende circunscrever como “o Califado” e no massacre de comunidades que toma como "inimigos internos".

Vale lembrar que:

(1) o movimento pela unidade nacional dos povos do Oriente Médio e Magreb não é novo e teve a sua primeira materialização em formato laico na extinta República Árabe Unida (Egito e Síria), que existiu, não por acaso, entre 1958 e 1961, sob impulso dos baathistas sírios e dos nasseristas egípcios;

(2) o prestígio da ideia de “nação islâmica” aflorou com a Revolução Iraniana de 1979, em que a teocracia xiita se substituiu à democracia laica – e, indiretamente, aos regimes bonapartistas herdeiros do baathismo e do nasserismo, apoiados por Moscou – como única alternativa política e militarmente eficaz (Guarda Islâmica) ao imperialismo anglo-estadunidense representado pelo xá deposto, Reza Pahlevi;

(3) há apenas algumas semanas o recém-promovido “líder da democracia mundial” Netanyahu se propunha a inscrever definitivamente na Constituição o caráter judeu do Estado de Israel, em cuja formação, aliás, os métodos terroristas tiveram um papel nada desprezível.

Os intermináveis conflitos que assolam o Oriente Médio e o Magreb são uma espécie de Guerra do Fim do Mundo contemporânea, sobre o pano de fundo da economia do petróleo, cujos efeitos colaterais podem alcançar, a qualquer momento e lugar, as “comunidades pacíficas e ordeiras do Ocidente”, seja na forma de um jihadista suicida armado até os dentes ou – por que não? – de um drone mortal teleguiado.

O único fator capaz de modificar positivamente este cenário aterrorizante é o retorno da classe trabalhadora à cena política, com organização e objetivos próprios e uma perspectiva inflexivelmente internacionalista – livre, portanto, da tutela do baronato social-democrata e dos preconceitos de intelectuais saudosos do “socialismo real”. Se isto não acontecer - bem, com um pouco de sorte poderemos seguir desfrutando, no Brasil e na América Latina, e sabe Deus até quando, os até pouco tempo impensáveis benefícios do desenvolvimento desigual!

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O ESPÍRITO DA FRANÇA SEGUNDO FRANÇOIS FRANCE, HOLLANDE

"Hollande anuncia ampliação de luta contra EI no Iraque
Presidente diz que porta-aviões está pronto para apoiar combate

A França tem 800 militares, nove aviões de combate, uma aeronave de patrulha marítima e um avião de reabastecimento em sua base nos Emirados Árabes como parte da missão no Iraque “Chammal”, bem como um navio de Guerra com dispositivos anti-aviões no Golfo. A França ainda opera seis caças da Jordânia e tem ainda mais de três mil soldados que realizam operações contra extremistas ligados à al-Qaeda na região do Sahel, no Saara."


2015-01-14