terça-feira, 21 de agosto de 2018

Eleições 2018: passando a borracha

Deu no G1
21-08-2018, por G1

Pesquisa Ibope de 20 de agosto para presidente por sexo, idade, escolaridade, renda, região, religião e raça



Comentários: 


(1) Lula, o autodesignado candidato dos pobres e da felicidade nacional, nada de braçada num oceano de popularidade, tanto maior quanto mais clara é a percepção coletiva
de estar pagando sozinho, com a liberdade do próprio bolso, o saldo devedor da República das Empreiteiras. Nulos, brancos, indecisos e revoltados em geral manifestam seu decontentamento à margem do PSOL, que submerge na irrelevância. Marina, opção default dos ecologistas com mais de 60 e libertários com mais de 30, especula com a chance de ascensão no vácuo do veto judicial ao líder. Ciro, o eterno plano B do nacional-desenvolvimentismo, respira por aparelhos. 

(2) A democracia revolucionária de Junho de 2013 não se faz representar na disputa presidencial. A independência de classe do trabalhadorado também não. 

(3) O "partido da Lava Jato", cujo principal porta-voz é hoje o ministro Barroso, não tem um candidato para chamar de seu. Um fato intrigante, considerando a imensa popularidade de que desfrutou pelo menos até a fragorosa derrota de novembro de 2016, quando o Congresso povoado de bandidos, que acabara de derrubar Dilma Rousseff por motivo fútil e substituí-la pelo "progressista" Michel Temer, rejeitou o projeto de lei anticorrupção proposto pelo Ministério Público com considerável apoio popular. Ou seja, a regeneração das instituições apodrecidas da Nova República a cargo da cúspide dessas mesmas instituições - a Presidência, o Congresso e o STF - provou ser uma quimera reacionária. Com efeito: do ponto de vista do significado político do cerco popular ao Congresso em junho de 2013, a Lava Jato é um fiasco.

(4) Lula trabalha para transferir seu prestígio, uma vez mais, para um membro de sua corte, fiel à sua burocracia e, o mais importante, devoto do bipartidarismo das pombas e falcões da classe proprietária dominante. A deposição da subcomandanta Rousseff num motim parlamentar liderado pela própria "base aliada" já foi há muito contabilizada como despesa contingente. A novidade é o PT ter sido levado, pela força das circunstâncias e a contrapelo de seu próprio ethos, a fazer a única campanha eleitoral que questiona de alguma forma a legitimidade dessas eleições: Lula Candidato, Lula nos Debates. Afinal, pergunto eu, como entender que Lula não pode ser candidato quando toda a malta de congressistas sob investigação estará na TV, à sombra das imunidades constitucionais, exortando os respectivos currais eleitorais a reconduzi-los aos seus cargos para mais quatro anos de cambalachos premiados? 

(5) Para mim, essa eleição é uma trampa, se não uma fraude completa - sem Lula ou com Lula -, usada pelos lados direito e esquerdo da Ordem, golpeadores e golpeados, como narcótico do clamor nacional Fora Temer! e purgante de seu corolário Eleições Gerais, ou Assembléia Constituinte, para reconstruir a democracia sobre novas bases. Sua missão, ao contrário, é “normalizar” o país com a transmissão do posto do usurpador Michel Temer ao político mais votado - de preferência, mas não necessariamente, um que não tenha ligação com a memória da organização de classe parida pelo trabalhadorado em 1980 - para tentar ressuscitar a Nova República passando uma borracha no tsunami democrático de Junho de 2013, no golpe parlamentar contra Dilma Rousseff e nas investigações da Lava Jato. E se possível, para exorcizar a nova crise econômico-financeira que assoma no horizonte. Uma pretensão desorbitada, mas essa é outra história. 


2018-08-21

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