terça-feira, 8 de novembro de 2022

De vento em proa




É certo que a quase vitória de Bolsonaro em 2022 foi comprada com o uso amplamente ilegal dos recursos do Estado, assim como a vitória de 2018 foi obtida com o sequestro judicial de Lula pelo prokuror Sérgio Moro e um tsunami de fake news com financiamento criminoso.

Mas isso não apaga a tragédia de ter sido não apenas a pequena burguesia brasileira amplamente seduzida pela propaganda neofascista, mas também uma parcela substancial do trabalhadorado, aquela que ascendeu socialmente no boom financeiro-imobiliário global dos anos 2000. Se considerarmos que o Partido dos Trabalhadores governou de 2003 a 2016, temos um enigma a esclarecer.

À guisa de contribuição, não o considero um enigma brasileiro. O mesmo aconteceu nos EUA depois de dois mandatos de Obama e, até certo ponto, na Europa após um ciclo de governos social-democratas. É um enigma planetário, relacionado, em minha opinião, à quebra generalizada das expectativas de progresso social subsequente ao desastre de 2008. O mundo do Sonho Americano, e sua versão européia, o Welfare State, se foi, e não retornará até que se invente um novo ciclo, longo e relativamente estável, de crescimento econômico global. Como isso parece cada vez menos provável, e em acontecendo será à custa do já precário equilíbrio ambiental, creio que teremos tempos turbulentos pela frente. 

Biden e Lula navegam, na melhor das hipóteses, contra o vento da civilização capitalista declinante; Trump e Bolsonaro, a favor.

A solução? Que os jovens tenham tantos filhos quanto puderem e os eduquem no espírito do ecossocialismo. O futuro é para onde aponta o nariz petulante de Greta Thunberg e seus/uas companheiros/as de jornada. É somente dentro do turbilhão democrático e ambientalista planetário que o trabalhadorado poderá se reconhecer e reorganizar como classe para si e recuperar para a espécie humana o programa histórico que deixou pelo caminho. 

Que venha o 1848 do século XXI!

2022-11-08