A
grande ausente na cena política brasileira parece ser, agora como em junho de 2013, a classe
trabalhadora. Claro está que não vejo como “a classe trabalhadora presente na cena política” os aparatos sindicais e suas áreas de influência imediatas mobilizados na última sexta-feira 13 para defender o governo Dilma das pechas de corrupto e incompetente.
Esse fato admite, por certo, uma mescla de interpretações conjunturais, estruturais, econômicas, sociológicas, antropológicas e até históricas. Mas como este blog não é capaz de ir tão longe, nem tão fundo, eu prefiro seguir a pista das declarações que vêm saindo da boca da presidente, dos chefes petistas e até do presidente da câmara, a indicar que "a corrupção no Brasil não nasceu ontem e suas raízes contemporâneas estão fincadas no governo FHC”.
Em face de tal álibi, um jovem trabalhador interessado na vida da nação (atitude rara no seio do patronato, é bom que se diga) poderia pensar: “Certo. A privataria tucana. Ouvi falar dela quando era criança. Mas o que é que o partido que pretende representar a minha classe social andou fazendo esse tempo todo que não moveu uma palha para investigar os malfeitos herdados nem para acabar com a corrupção vicejante bem debaixo do seu nariz e ao abrigo de suas próprias nomeações políticas?"
Convenhamos: para qualquer trabalhador que, embora não frequente os círculos sindicais, ainda se considere representado pelo PT e seus governos, há de ser profundamente desmoralizante que tenha cabido à polícia e à justiça a tarefa de trazer à tona uma rapinagem tão evidente e escabrosa como o propinoduto da Petrobrás, dando à grande imprensa e ao patronato mais uma imperdível oportunidade de expô-la à nação como uma tara original do movimento a que hoje eles se permitem o luxo de chamar sarcasticamente de "lulopetismo"!
É difícil, a essa altura, imaginar um bom motivo pelo qual a classe trabalhadora brasileira sairia espontaneamente em defesa de um governo seriamente suspeito de conivência interessada - ainda que por motivos de financiamento de campanhas eleitorais - com a indústria da corrupção. E o que é pior, reincidente!, se considerarmos que Lula e Dilma são a continuidade do mesmo movimento histórico.
Esse fato admite, por certo, uma mescla de interpretações conjunturais, estruturais, econômicas, sociológicas, antropológicas e até históricas. Mas como este blog não é capaz de ir tão longe, nem tão fundo, eu prefiro seguir a pista das declarações que vêm saindo da boca da presidente, dos chefes petistas e até do presidente da câmara, a indicar que "a corrupção no Brasil não nasceu ontem e suas raízes contemporâneas estão fincadas no governo FHC”.
Em face de tal álibi, um jovem trabalhador interessado na vida da nação (atitude rara no seio do patronato, é bom que se diga) poderia pensar: “Certo. A privataria tucana. Ouvi falar dela quando era criança. Mas o que é que o partido que pretende representar a minha classe social andou fazendo esse tempo todo que não moveu uma palha para investigar os malfeitos herdados nem para acabar com a corrupção vicejante bem debaixo do seu nariz e ao abrigo de suas próprias nomeações políticas?"
Convenhamos: para qualquer trabalhador que, embora não frequente os círculos sindicais, ainda se considere representado pelo PT e seus governos, há de ser profundamente desmoralizante que tenha cabido à polícia e à justiça a tarefa de trazer à tona uma rapinagem tão evidente e escabrosa como o propinoduto da Petrobrás, dando à grande imprensa e ao patronato mais uma imperdível oportunidade de expô-la à nação como uma tara original do movimento a que hoje eles se permitem o luxo de chamar sarcasticamente de "lulopetismo"!
É difícil, a essa altura, imaginar um bom motivo pelo qual a classe trabalhadora brasileira sairia espontaneamente em defesa de um governo seriamente suspeito de conivência interessada - ainda que por motivos de financiamento de campanhas eleitorais - com a indústria da corrupção. E o que é pior, reincidente!, se considerarmos que Lula e Dilma são a continuidade do mesmo movimento histórico.
E
a ironia da história é que, justo no momento em que mais precisa da classe
social que seu nome diz representar para enfrentar as hienas de plantão - porta-vozes de
um empresariado que sempre, e ainda mais depois que inúmeros de seus executivos
foram apanhados com a boca na botija, preferiu o anonimato (e a boa vizinhança com os quarteis) - o Partido dos Trabalhadores se vê na contingência de ter de
responder com as armas do adversário a uma crise
econômica que até as pedras sabiam que um dia iria chegar. Ou alguém pensa
seriamente que, no capitalismo contemporâneo, um país está livre de ciclos recessivos e freadas bruscas só porque os especialistas em negociações trabalhistas e arranjos parlamentares ocupam os postos-chaves do poder político?
Pois este mesmo governo está prestes a pedir à classe trabalhadora, por meio do ministro banqueiro, que pague a conta de um programa de gastos públicos que, se bem lhe proporcionou uma boa década de emprego seguro e recuperação salarial, foi amplamente moldado pelas necessidades de um pequeno comitê de empreiteiras, concessionárias, incorporadoras, bancos e multinacionais do entretenimento esportivo.
Como esquecer que as reivindicações da meia-passagem e da abertura das contas das concessões de transportes estiveram na base da surpreendente revolta de junho de 2103 - um quase incêndio nacional inflado pelo imenso mal-estar político com os gastos para a Copa do Mundo e os incríveis privilégios concedidos às empreiteiras e à FIFA?
Aviso, portanto, não faltou.
Eu acredito que o trabalhador comum continua muito mais interessado em encher a panela do que em fazer dela tamborim, o barulhento passatempo que anda mobilizando - não sem alguma razão, é preciso admitir - os bairros mais valorizados e bem aquinhoados de serviços das grandes cidades. Mas, cá entre nós, em nome do quê ele irromperia na cena política, como membro de sua classe, sem sequer ter sido chamado e justo na pior hora, anos depois de dispensado pelas lideranças de seus pais como um traste obsoleto, uma presença inoportuna no banquete do desenvolvimentismo socialmente concertado?
Pois este mesmo governo está prestes a pedir à classe trabalhadora, por meio do ministro banqueiro, que pague a conta de um programa de gastos públicos que, se bem lhe proporcionou uma boa década de emprego seguro e recuperação salarial, foi amplamente moldado pelas necessidades de um pequeno comitê de empreiteiras, concessionárias, incorporadoras, bancos e multinacionais do entretenimento esportivo.
Como esquecer que as reivindicações da meia-passagem e da abertura das contas das concessões de transportes estiveram na base da surpreendente revolta de junho de 2103 - um quase incêndio nacional inflado pelo imenso mal-estar político com os gastos para a Copa do Mundo e os incríveis privilégios concedidos às empreiteiras e à FIFA?
Aviso, portanto, não faltou.
Eu acredito que o trabalhador comum continua muito mais interessado em encher a panela do que em fazer dela tamborim, o barulhento passatempo que anda mobilizando - não sem alguma razão, é preciso admitir - os bairros mais valorizados e bem aquinhoados de serviços das grandes cidades. Mas, cá entre nós, em nome do quê ele irromperia na cena política, como membro de sua classe, sem sequer ter sido chamado e justo na pior hora, anos depois de dispensado pelas lideranças de seus pais como um traste obsoleto, uma presença inoportuna no banquete do desenvolvimentismo socialmente concertado?
Meu
palpite – porque em coisas do coração nunca se pode ter certeza – é que a
classe trabalhadora brasileira está irremediavelmente estranhada com o seu partido,
e pelo pior dos motivos: anos de indiferença e autoindulgência com boemia, esbórnias e infidelidades, agravos que, como todo mundo sabe, não só não se reparam com casa, comida e roupa lavada como deixam ressentimentos difíceis de curar.
Resta saber quão prolongado e doloroso será o divórcio. E, caso ele se consume, se a rejuvenescida senhora pretenderá, um dia, tornar a casar.
2015-03-21
Resta saber quão prolongado e doloroso será o divórcio. E, caso ele se consume, se a rejuvenescida senhora pretenderá, um dia, tornar a casar.
2015-03-21