quinta-feira, 26 de março de 2015

PPPs e DDDs

Deu na folha de São Paulo
24/03/2015 Por Sérgio Rangel
'Não vamos fazer lucro com os Jogos', diz diretor-geral do comitê da Rio-2016
Entrevista com Sidney Levy, diretor-geral do comitê organizador da Rio-2016


A imagem da Vila Olímpica 
Rio 2016 sintetiza a
composição orgânica do
Capital no Século XXI (©Piketty):
No primeiro plano a Festa,
no segundo a Ordem,
no terceiro a Taxa de Lucro 
O relevante depoimento do Dr. Levy, CEO do COI, sugere ao blogueiro a seguinte descrição da Democracia Capitalista do Professor Merval, que, como deveria saber todo leitor deste nefando blog político-escatológico, "ainda NÃO é um Capitalismo de Estado como o chinês".

Para promover grandes eventos e empreendimentos urbanos suficientemente lucrativos (artigo raro nos dias de hoje e origem de toda essa confusão), mas que dependem de montanhas de gastos em infraestrutura e equipamentos públicos (fora as vantagens fiscais e direitos extraconstitucionais), os proprietários das grandes marcas internacionais se associam aos Estados pela via das chamadas PPPs - Parcerias Público-Privadas - e suas congêneres.

A característica essencial das PPPs é que o lucro dos empreendimentos fica todo com os privados e a dívida com os Estados para ser repartida entre os agradecidos cidadãos. As PPPs são uma moderna técnica auxiliar do já secular conluio terapêutico conhecido como DDD - Diálise Despesa-Dívida [Pública], do qual depende a saúde e longevidade da vetusta tutelanda do Professor Merval. 

A versão contemporânea da DDD compreende duas fases: na primeira (Despesa Pública) ganham as empreiteiras e concessionárias, na segunda (Dívida Pública), os bancos. O governo é o "laranja", o nível de emprego (ou a revitalização da cidade) o álibi e os trabalhadores em geral os "pagadores de última instância". 

Quando o Tesouro não tem mais grana para honrar a dívida, a diálise colapsa e a paciente entra em crise. Alarme! É a hora do E.R.: os bancos credores passam a pedir a “contenção do gasto público”, o professor Merval a perorar as virtudes do “dever de casa” e o outro Levy - o ministro – a ministrar, como compete ao cargo, o “remédio amargo”. Restabelecidos os sinais vitais, a veneranda senhora retorna à santa rotina da sua DDD!

E la nave va, com mais uma rodada de concessões e PPPs.


Leia a entrevista completa com o Dr. Sidney Levy clicando em 



2015-03-26