terça-feira, 25 de outubro de 2011

Desinformando Khadafi



Na manhã seguinte à morte de Khadafi, a primeira meia página de O Globo estampava, em letras garrafais: “O Fim Violento de um Ditador”.

Eu fiquei imaginando quantas horas-homem de jornalistas da editoria terão sido gastas para imaginar manchete tão perfeitamente confortante e ambígua. Não vi ninguém parado na banca querendo saber das circunstâncias. Que importa? Se a Casa Branca, a OTAN e a TV Globo – ou seja, toda a “comunidade internacional” – garantem que o sujeito era um ditador sanguinário e por isso merecia morrer, que diferença faz quem o matou, como matou e por que matou?

Que importa se o regime da dita primavera líbia não fez a menor questão de capturá-lo vivo para ser pública e transparentemente julgado por seus crimes?

A nossa presidenta Dilma Rousseff, num saudável reflexo, disse: “Não se comemora a morte de qualquer líder”, querendo obviamente dizer “Não se comemora a morte de um chefe de Estado, seja de que Estado for”. Diplomaticamente perfeito. Só me pergunto se ela, que conheceu na carne os porões da ditadura, não tinha em mente, mais do que a máscara torturada de Khadafi, o espectro distante, mas ainda assustador, de Allende.

2011-10-25