domingo, 1 de outubro de 2017

Una tortilla democrática, por favor!

Imagem: Internet
Qualquer que seja o desfecho do referendo independentista catalão, o regime de 1978 está liquidado como representação espanhola do que quer que se queira continuar chamando de “democracia ocidental”. 

A partir de 1 de outubro ele assume formalmente o estatuto de instituição criptofranquista encarregada de submeter - à luz do dia, sem disfarces e pela coerção sempre que necessário - os direitos e liberdades dos povos da Espanha às exigências da monarquia parasitária e dos grandes vampiros da economia contemporânea - bancos, fundos de pensão, imobiliárias, concessionárias de serviços públicos, monopólios energéticos, turísticos, comerciais e informáticos.

Não esqueçamos que o regime de 1978 é, ele próprio, uma sequela tardia e precária do Estado do bem-estar europeu subsequente à Segunda Guerra Mundial, abalado em seus alicerces pela resposta neoliberal à crise de rentabilidade de fins dos 1970s e atingido em cheio pela Grande Recessão dos 2010s - levando de roldão as bases materiais do bipartidarismo em geral e, muito particularmente, da social-democracia moderna, esteio da estabilidade política no continente e, por adaptação, em outras partes do mundo - o Brasil dos 2000s, por exemplo.

Salvo a vitória, no maravilhoso país da paella, do Quijote e do flamenco (não digo das corridas de toros em respeito aos direitos humanos dos bovídeos), de uma revolução democrática como a que se desenrola na Catalunha, a ascensão de um Novo Franco, "pequeno" e "civil" quem sabe, para começar, é questão de tempo.

Gostaria de estar equivocado. Quem dera eu pudesse ser, até o fim dos meus dias, apenas um despreocupado baby-boomer adepto da tortilla madrileña.


2017-10-01