terça-feira, 3 de outubro de 2017

Me imprensa que eu gosto

Deu no El País online
03-10-2017, por El País
 
Fonte: El País

Poucas semanas atrás o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, declarou num depoimento à revisa Piauí acreditar que as "ações virtuais" ligadas ao movimento de junho de 2013 estariam "sendo patrocinadas" e que a presidenta Dilma, segundo soube, teria recebido telefonemas de Erdogan e Putin para alertar para tal fato. 

Muita gente, nos dias que correm, parece preocupada em encontrar culpados outros que não a deliquescência da economia monopolista global para a ruína da ordem pretensamente inquebrantável do pós-Segunda Guerra Mundial e suas consequencias sociais e políticas.

Promotores, agentes e beneficiários da longa e confortante etapa histórica patrocinada pelo Estado do bem-estar social - em que o termo democracia passou a ser sinônimo da inexpugnável alternância de governos conservadores e liberais, democratas-cristãos e social-democratas, falcões e pombas, rightists e leftists, tucanos e petistas - se vêem atônitos com o desmoronamento político da social-democracia, e de seus congêneres espalhados pelo mundo, depois que as ondas de choque da debacle econômico-financeira de 2007 a privaram de sua base material.

Na confusão, ninguém se entende a respeito de que lado estão os russos. Mas o enigmático Putin está sempre ao alcance da mão de quem precisa de uma explicação rápida e fácil para aquilo que não está nem nos compêndios de sociologia nem nos manuais de jornalismo e é mais temido do que a peste, a guerra, a fome e o aquecimento global: as multidões urbanas do século XXI em movimento. 

Vai ser interessante o dia em que os russos resolverem sair de casa.

2017-10-03