quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A Catalunha insurgente está só. Está?

Foto: Juan Medina / Reuters.
  Fonte: El Punt Avui / Internet
 
Os Estados do mundo passaram os últimos anos, meses e semanas - e até mesmo os dias que antecederam o referendo independentista - ignorando os desenvolvimentos da luta do povo catalão por sua autodeterminação política. 

De súbito, o afluxo de um autêntico tsunami cidadão ao referendo obstinadamente garantido pelas instituições autonômicas, organizações independentistas e lideranças civis da nação – a despeito dos confiscos, da sabotagem, das ameaças e da truculência policíaco-judicial do Estado central – converteu, como num passe de mágica, a indiferença generalizada em desconcerto, inquietação e pânico. 

Aonde poderia levar a insurreição nacional, republicana e popular, ao mesmo tempo radicalmente democrática e deliberadamente gandhiana, de 1º de Outubro? Que consequências poderia ter para a ordem espanhola, europeia e mundial? 

A começar da própria União Europeia - na qual milhões de catalães depositavam suas esperanças de um trânsito relativamente suave rumo à República, la desconexió -, um a um os chefes de Estado de todo o mundo passaram a manifestar sua adesão à indivisibilidade do território espanhol e à incolumidade de seu Estado, acompanhada de palavras de apoio ao governo Rajoy e melífluas exortações aos líderes catalães para que "se abram ao diálogo” e "busquem uma solução pactuada” - isto é, para que se submetam, pela enésima vez, ao pacto franqui-monárquico-parlamentar de 1978.

A Catalunha insurgente está só - ante a real possibilidade de uma intervenção policial-militar - no que respeita aos Estados nacionais. Resta saber se está só também no que respeita aos partidos e lideranças políticas que, em todo o mundo, exercem o papel de representantes das aspirações dos povos pela democracia, pela República, pelo progresso social e pelo socialismo. 

A Catalunha insurgente precisa, desde já e urgentemente, do apoio efetivo do Podemos espanhol, do França Insubmissa, do Syriza grego, do Partido Trabalhista britânico, do PT e do PSOL brasileiros, do Partido Democrata norte-americano, do Partido Comunista Cubano, dentre muitos outros que minha desmemória e minha ignorância política não me permitem citar. 

A Catalunha insurgente precisa, desde já e urgentemente, de manifestações inequívocas e iniciativas práticas por parte de lideranças políticas de expressão mundial como Iglesias, Corbyn, Mélenchon, Varoufakis, Piketty, Bernie Sanders, Lula, Mujica, Obama e tantos quantos sobrevenham à lembrança do leitor. 

Como, porém, essas importantes organizações e personagens - com raras e honrosas exceções - até aqui têm demonstrado menos apreço pela fama que ostentam do que por suas lealdades constituídas, resulta que a Catalunha insurgente continua virtualmente só, e no momento do maior perigo. 

Mas não desesperemos. Tudo é possível à Catalunha autodeterminada enquanto ela puder se alimentar da energia libertária das multidões de trabalhadores urbanos e indignados de todas as idades - da Praça Tahir, da Puerta del Sol, do Occupy Wall Street, do Junho de 2013 na Turquia e no Brasil, do Nuit Debout e, principalmente, do seu próprio 1º de Outubro.

Vejamos o que sucede.

2017-10-05