O
mínimo que se poderia esperar de um contrato com a entidade privada dona dos
direitos da Copa do Mundo é que esta exigisse o controle total da receita de
ingressos. Se há uma única coisa compreensível, senão razoável, no acordo com a
FIFA é que os ingressos sejam vendidos pelo preço fixado pela entidade.
É
evidente, nesse caso, que, se o governo brasileiro quisesse respeitar a lei da
meia-entrada bastaria subsidiá-la na cota de ingressos destinados ao público
doméstico. Se a Copa do Mundo fosse um empreendimento verdadeiramente privado
acolhido com interesse pelo Estado brasileiro, o subsídio à meia-entrada seria
um custo público efetivamente desprezível, amplamente compensado pelas
externalidades positivas do empreendimento.
Ocorre,
porém, que, como eu mesmo já disse em outro lugar, a Copa do Mundo não é um
empreendimento privado, mas uma gigantesca operação estatal de ajuda aos donos
do negócio do futebol e seus fornecedores, construtoras e hoteleiros, mediante
fabulosos investimentos públicos a fundo perdido e polpudas isenções fiscais.
Para a FIFA, trata-se de produzir seu espetáculo a custos de mão-de-obra,
infraestrutura, equipamentos e serviços de Terceiro Mundo para vendê-los na
Europa, Ásia e EUA a preços de Primeiro.
Nessas
circunstâncias, o governo me parece acertar tarde demais. Enquanto os grandes espertalhões do
negócio futebolístico usufruem os generosos subsídios já concedidos e o governo
(se liga, PT!) os pontos conquistados na parada do prestígio internacional, os
jovens e idosos interessados em assistir às partidas da Copa nos novos estádios
brasileiros classe FIFA correm o risco de ficar sem o seu direito à
meia-entrada.
2011-11-01